Família para sempre e outras coisas que quero prometer

Deixei o Pequeno em um parquinho supervisionado ontem por algumas horas. O Maior estava na escola e era o aniversário do meu marido, então eu e ele almoçaríamos juntos. Era algo que não havíamos feito desde, bem, desde que o Maior viera para casa.

O Pequeno estava animado para brincar com o trenzinho, o escorrega e todas as outras coisas que eles tinham para entreter as crianças enquanto estavam longe de seus pais. Mas também não estava à vontade em me deixar. Eu falei com ele no caminho para dentro e cantamos nossa musiquinha de despedida, que fala sobre como eu vou voltar (nota: agradeço a Daniel Tiger pelo conselho de pai). Então o inscrevi e o entreguei à tia do parquinho. Ela percebeu o nervosismo dele e disse, como muitas cuidadoras fazem, “Está tudo bem, as mamães sempre voltam.”

Exceto quando não.

Eu tenho esse sussurro na minha cabeça toda vez que me ouço prometer o “toda hora”, o “para sempre”, prometer que não haverá grandes mudanças agora. Às vezes as mamães não voltam. Morte, doenças físicas ou mentais, renúncia, abandono, há uma miríade de razões por que, às vezes, tragicamente, mamães não voltam. Há mães acolhedoras que amam seus filhos, cuidam deles, SÃO suas mães por algum tempo e, enquanto os adultos sabem o que aconteceu, eu sinto que para algumas crianças elas são apenas mais uma mamãe que não voltou.

Eu não sei qual é a resposta. Eu não acho que haja uma. Crianças foram feitas para estar com suas mães. Às vezes isso não funciona. E às vezes eles ganham outra mãe. Mas não me entenda mal, eu acho que ser a “outra mãe” é um lindo privilégio. Eu sou a Mãe deles. A mãe adotiva. Eu sou deles completamente. Não sou de segunda classe ou falsificada. Nenhuma mãe é.

Mas enquanto falamos muito sobre essas crianças se juntando ao “lar” e usamos muito expressões como “família para sempre”, eu acho que precisamos ser brutalmente honestos com nós mesmos. Ser pais dessa forma requer mais empatia. Nós, como pais adotivos, temos que nos lembrar que estamos pedindo que eles acreditem em algo que a nossa própria existência coloca em questão: a promessa de uma família para sempre. Se famílias fossem verdadeiramente para sempre, eles não nos teriam.

Eu ouço muito sobre o trabalho duro que os pais adotivos têm. Há conferências sobre isso. Livros. A expressão “cuidando de crianças vindas de lugares difíceis” tem sido muito usada. Nenhuma dessas coisas é ruim ou falsa. Mas a maior verdade é a de que estamos pedindo a essas pequenas almas que acreditem em algo que a suas experiências contradizem.

Ser pai é difícil, ser pai adotivo é difícil. Mas escolher amar de novo, escolher confiar que essa mamãe vai voltar quando a outra não voltou, deve ser a coisa mais difícil de todas. E nós, como seus pais, temos que honrar e respeitar isso.

Essas crianças são quem não têm nenhum poder no processo de adoção, mas quem corre o maior risco. Eu acho que a comunidade adotiva deve ganhar uma perspectiva melhor de onde está, exatamente, a dificuldade. Nós devemos parar de perguntar, “como as crianças se adequam” e mais “como sua família está se adaptando ao que eles precisam?”. Porque nós é que somos os crescidos aqui. Nós é que pedimos para tê-los em nossas vidas. Nós é que temos a honra pura de ser pais de suas mentes e corações.

Nós precisamos respeitá-los. Respeitar suas histórias. Respeitar suas realidades. Respeitar quão incrível é que um coração que sofreu um golpe tão terrível possa aprender a amar de novo. Não importa o quão lentamente, não importa o quão doloroso seja o processo para nós como pais adotivos, os corações deles é que importam. Têm que importar. Realmente importam. Porque toda a coisa de ser pais é sobre seus corações em primeiro lugar. E sua bravura deve ser aplaudida.

“Família para sempre” é o termo normalmente usado para família adotiva nos EUA, em contraste com as famílias acolhedoras

Texto original: http://wondermentetc.com/2015/05/12/forever-family/
Tradução: Luisa Peixoto

Fonte: http://correspondenciadaadocao.blogspot.com.br/2015/06/familia-para-sempre-e-outras-coisas-que.html?m=1

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Diogenes Duarte

Jornalista - DRT 986/MS - Servidor do Poder Judiciário do MS - Membro do Grupo AFAGAS.