Participantes do CPA discutem adoção sem devolução de crianças

O plenário do Tribunal do Júri de Campo Grande nunca esteve tão cheio em um Curso de Preparação à Adoção (CPA) quanto na noite desta quinta-feira (4). Requisito obrigatório para quem pretende se habilitar, o curso visa preparar candidatos para lidar com diferentes aspectos do processo adotivo e aborda possíveis conflitos dos pretendentes, dúvidas e ansiedades quanto ao processo de adoção.
Apesar dos lugares acrescentados, muitos participantes ficaram em pé para acompanhar esta edição do CPA. A equipe do Núcleo de Adoção começou com o filme Astro Boy, uma animação que mostra um grande cientista que perde o filho e decide construir um robô para substituí-lo.
Assim, cria o Astro Boy, um menino com o melhor das características humanas, movido por uma grande fonte de energia. Como ele acaba não correspondendo ao afeto que o cientista tinha pelo filho, causando ainda mais dor, ele é expulso e obrigado a aprender sozinho a viver como um robô e encarar a realidade de que ele não é um ser humano.
Após o filme, os participantes foram convidados e refletir e opinar sobre a mensagem da animação e a grande maioria entendeu que não importa se o filho é biológico ou não: é filho e deve ser amado da mesma maneira.
Durante os debates, a psicóloga Naura Clívia ressaltou que é necessário ter plena certeza que o desejo de adoção é verdadeiro porque este deve ser um processo sem volta. Naura relatou uma situação recente envolvendo um adolescente que, depois de quatro anos adotado, será devolvido pela família.
“O processo de adoção é muito sério e pode ser maravilhoso para pais e filhos. Entretanto, algumas situações como a devolução de crianças devem ser evitadas e é para isso que estamos aqui. Para que conheçam passo a passo, entendam como funciona este instituto e tenham certeza do que desejam”.
Realidade – No meio dos participantes estava o psicólogo Rinaldo Gomes Garcia, 50 anos, que já participa do processo de apadrinhamento e deseja adotar um menino, que atualmente está acolhido em Ribas do Rio Pardo, e já foi devolvido depois de ser adotado por uma família.
Apesar de ter 10 anos e estar cursando a 3ª série, João está pronto para amar e ser cuidado. Enquanto Rinaldo conta como foi construir o vínculo, a relação de afeto com o menino em 2016, enquanto padrinho, é difícil descobrir quem está mais feliz com a possível adoção: ele ou João.
Em julho, Rinaldo tirou férias do trabalho para aproveitar com o menino o período de férias escolares e relata que João já mostrava os primeiros sinais de que deseja ser adotado pelo padrinho. No próximo feriado, ambos vão viajar e o psicólogo pretende conversar com o garoto sobre o tema, já que a possibilidade de adoção é concreta.
Terminado o CPA, Rinaldo já decidiu: vai pedir a guarda do garoto, que começará 2017 integrando uma família. O psicólogo sabe que passará por avaliação psicossocial, fará parte do cadastro nacional de adoção, que ambos serão acompanhados pela equipe do Núcleo de Adoção de Campo Grande, mas não vê problema em nenhuma dessas etapas.
“Ele já faz parte da minha vida, acompanha minha rotina, respeita os limites a ele impostos. Na verdade, ele só quer ser cuidado. O João é carinhoso, embora demonstre pouco comigo e entendo isso. Leva tempo para se construir uma relação de afeto. Ele sabe que seremos eu e ele. Pai e filho”, contou Rinaldo.
Mais – Nesta sexta-feira termina esta edição do CPA e os próximos encontros estão previstos para os dias 17 e 18 de novembro. A intenção é apresentar aos participantes do curso crianças e adolescentes que estão disponíveis para adoção na Capital.
De acordo a assistente social Adma Freitas, hoje os participantes discutirão o tema universo infantil. A equipe do Núcleo de adoção pretende explicar como funciona o processo de habilitação,  a necessidade das visitas, quais aspectos são observados pelas profissionais na avaliação psicológica e na social, enfim, tudo para que a adoção seja efetivada com sucesso.
 
CPA – No total, cada edição do Curso de Preparação à Adoção tem oito encontros com a abordagem de diversas temáticas que permeiam o processo de adoção, com intuito de desconstruir os paradigmas que influem o imaginário dos pretendentes na idealização do filho(s) adotivo(s).
Autoria do Texto:
Secretaria de Comunicação – imprensa@tjms.jus.br

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Diogenes Duarte

Jornalista - DRT 986/MS - Servidor do Poder Judiciário do MS - Membro do Grupo AFAGAS.